9 de julho de 2008

Fervença

Para Laura, na minha Terra.

Não era o tempo de chorar.
Era o tempo de falar-se
em fervença longa
e invocar a estirpe líquida.
Alçar-se em sorrisos
e olhar os olhos do caminho.
Era o tempo de descer,
moldar a rocha,
acarinhar volumes e arestas,
cantar o som líquido das aves translúcidas
e cavalgar libelinhas brilhantes
com voz segreda de guizo.
Era o tempo de amar, minha amiga,
amar no mar partido
o tempo cíclico da revelação
da estirpe do fim e dos inícios,
das filhas da água
que levitamos em nuvem
e choramos em chuva
e chegamos em tempos escuros até o rio
e cantamos na fervença a ode ao mundo,
a nossa força de recônditos paraísos,
e abraçamos o vento com ondas de sal
pingas breves de luz sobre a palavra.
Era o tempo, amiga, de dançar,
no ciclo que retorna ao dia de Gaia,
oceano tenro de olhares
na fervença longa
entre o mar Caribe
e Codeso.

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