28 de janeiro de 2008


ENTRE TERNURA E VERDE

Entre ternura e verde
o infinito
abre aurora nova
por sonhar-te
e saber da tua pele,
de silêncios
que tornas companhia
e caminhar-te,
caminhar-te longo
em poro doce,
em palavra, semente,
em saraiva de beijo contra beijo,
batalha de linha na esperança
e cântico de estrela
no astrolábio do tempo.

Rios de memória abrem luzes
e quero abraçar-me a ti
e ser carícia
e sentir-me
e saber-me
de alvoradas,
das alvoradas todas,
terra e marca.

27 de janeiro de 2008

ESPERANÇA DE MAR (IV)


XII

Naufragava o tempo das palavras.
O universo era novo,
a primavera
refulgia
de tactos e de odores
e uma luz azul no mar incerto
inflamava de amor
luas de sonhos
e pousava longo no silêncio.

As estrelas nasciam oceânicas,
como flores de fe
na voz dos ventos
e um verbo de esperas
se encarnava
nas ondas longínquas
deste alento.

XIII

Aquele que cruza o mar
sente a dor das suas ondas,
uma dor de ida e volta
nas margens do seu amor.

Terei contigo, navegante
uma esperança de dor
nesta tua nave de amor
na que rompemos os mares.

XIV

Partilhamos
por um tempo
no oceano
a rota do pôr de sol.

Enredada na rede dos teus lábios
pesco luz dourada
com a cana das minhas maos
e viajo contigo pela tarde
de um passado de esperas,
de um futuro de adeuses,
de um presente de amor.

XV

Nas ilhas dos teus olhos
buscaria
a caixa de Pandora
para ama-la,
senti-la levemente,
sem verte-la,
partilhar o seu nome
sem goza-la

Deixaria o seu sonho
para o povo
do que nasces,
e no que tens a âncora.
Porquê a fé do teu rosto
tem destino
de vento, de luz e de esperança.

XVI

Tenho o ritmo doce dos teus beijos
sonhado no latejo da alvorada.
Amor de estrela errante
nao tem dono
e vive no eco da esperança.

Sentir-te é utopia de desejos,
viver-te, o desejo das palavras.

Mas há velas douradas na tua nave
e o vento sopra forte na enseada.

Quando partas deixa-me um sorriso.
Ficarei neste farol
resguardada,
no confim do meu mundo
para dar-te
lembranças de luz
desde a distância.

XVII

Diz-me da Cruz do Sul,
das suas ilhas,
dos recifes de estrelas
que a conformam,
desse mar de luz
no que pescavas
cor, sentimentos, tempo, amores...
quando cai a noite
e se ergue a solidao


XVIII

Este barco de sonhos
tem a proa
orientada a um mar de coraçoes.

Viajeiros da vida
habitamos
esta noite
o seu mastro de luz
e ondulamos as águas
com os versos
mais belos nunca partilhados

para criar caminho
entre as algas planetárias
e tornar o percurso de uma aurora
pétala possível
de uma rosa dos ventos
sempre em nós.

XIX

No anverso
de um verso,
o universo
lateja
e procura uma palavra
com seiva
verdecida
para dar-nos,
no recanto íntimo
de um astro,
tempo de amor,
pátria de amor,
verbo de amor.

XX

Navega-me
que quero navegar-te
desde as fontes do tempo
até os rios,
desde os rios
até o oceano
ir sulcand
as palavras a ritmo lento...

Esquivemos recifes
de distância,
porquê quero escutar-te
em cada verso,
sentir-te no silêncio da esperança,
viver-te na esperança do silêncio.

Praia do Fim do Mundo, 16 de julho do 2001

14 de janeiro de 2008

VARATOJO

PARTILHAR ARTE

Chega um surpreso na noite, a magia da palavra ao vento e ao oceano da navegaçao noctambula, a apresentaçao de José António Varatojo (http://www.varatojoblog.blogspot.com/)... E a imagem... A humanidade em ternura, a humanidade em sonhos, a humanidade à rolda, a humanidade a par... Sombras de humanidade, perspectivas da persona nas pessoas.
Marca o tempo das massas o ar da sombra e o conteudo do espírito movimentado.
De Leiria ao sempre

12 de janeiro de 2008

ESPERANÇA DE MAR (III)

XI
A tua nave é um arca de lembranças,
aroma de café e manatis,
de esmeraldas e flores,
de sorrisos
que viajam comigo
na distância.
Como um Noé novo
trazes tempo
de vida na vida preservado,
nas maos a luz dos ventos,
na palavra
o cântico das águas retornado

ESPERANÇA DE MAR (II)


IX
Adentrei-me no mar.
As águas frias
moldarm o meu corpo
com seus beijos

-na praia já esperara
a tua nave,
a das velas azuis,
por muito tempo-

Adentrei-me no mar.
O mundo líquido
vivia e morria
nalgum verso.

Numa rota de sol
tomei o rumo
da esperança despida
sem regresso.

Adentrei-me no mar,
relógio antigo
do ciclo reinante
no seu templo.
O sal cosia escamas
entre as ondas,
a luz era palavra
do silêncio.

Adentrei-me no mar
e nadei longe
até o fim das palavras,
onde o alento
se torna
espírito do mundo
e as estrelas se perdem
entre os céus.

Ali cantava um eco
com teu nome
prendido na música
do vento.
A roseta do amor
o sinalava
e a tua nave surgia
do universo.

X

Sinto frio de mar,
frio de lua...
Veste-me de ti
e dá-me alento
porquê a saudade
é uma fria espada
que vive em cada instante
de silêncio.

Veste-me de sonhos
e de amores,
de alegria, de luz
e de verdade
Com um manto de fe
da-me o abrigo
da tua nave tenra
além do instante.

ESPERANÇA DE MAR


I
Navegamos as distâncias
numa nave mágica


Ancorávamos as maos

ao leme dalgum verso,

mergulhados no mar

das palavras perdidas,

apanhados na rede

de um pescador velho.


O infinito tornou-se

tecedor geográfico

e deu-nos uma noite

a pena azul do vento

para escrever o nome

dessa ilha fantástica

perdida na memória,

semeada no tempo.


Navegamos os mares

das anemonas murchas,

os recifes antigos

dalgum crutáceo ascético.


Nas margens já da rede,

a Atlântida infinita

entregou-nos o brilho

anfíbio

do desejo.



II


Oceano infinito,

descosias as redes

porquê o mar é mais longo

que uma caixa de tempo,

porquê as palavras têm

os ritmos curvilíneos

e navegam em círculos

sem rotas de regresso.


Inter-nos a alvorada

deixou já um caminho

e uma malha solta

tornou-nos fugitivos.

Nadamos para a terra

dos sonhos e as carícias

onde tecem seus ninhos

as gaivotas eternas.



III

Vivemos em águas novas

recriados os mundos.

Nadamos em tempos longos

de rotas aquosas;

entre inocentes peixes, corais e algas velhas,

habitamos os mares

desde o eco dos nomes.


Perdidos e prendidos,

mergulhados no espaço,

deitamos a semente para um jardim de anémonas

e, longe das correntes,

criamos novo ninho,

caracola de vida,

essência de horizontes.


IV


Tempo de mar,

mar lento,

ritmo de esperança

e silêncio.


Tempo de amor

sem tempo,

com o infinito roto

nalgum verso.




V


Desteço lentamente

o tempo leve,

esmiuço em areias

todo um mundo

esperando a presença

da tua nave

na pátria de saudades

que eu habito.


Aspiro o odor salgado,

escuto os chios

das gaivotas cinzentas

que regressam

e teço entao a ausência

com os astros

nesta minha teia

de silêncio.


VI

Desteço nas areias

o teu rosto

com os dedos tendidos

a algum sonho


Desenho o teu sorriso,

o teu aroma

com reflexos de lua

nesta aurora


Desenho o teu olhar

com as estrelas

enquanto a maré desce

desde a terra


Desenho as pegadas

dos teus passos

profundas e salobres

como os anos


Desenho-te em azul,

também em verde

na cor ainda da terra

que me vence


Desenho-te com dedos

de esperança

na cortiça suave

da minha alma


Desenho-te de mundo,

de palavras,

até que cria o mar

a sua marca

e torna lentamente

o meu trabalho

a lembrança dum sonho já passado.


VII


Sombra solitária

sempre acho,

solidária de nomes

e de versos


Esperança da terra na que medra

recortada no som

dalgum silêncio


Sombra da manha

que ainda sonha

arestas de ternura

entre a névoa


Inédita memória

de carícias,

flor de saudades

nesta ausência.


VIII


Aqui, na beira-mar

o tempo range,

retoma o seu ritmo sempiterno

em ciclos de ida e volta

como a vida,

devorando a areia

com seus beijos.


As rochas aparecem trabalhadas

por maos sem maos

de água

a ritmo lento.


No seu silêncio verde

o mundo entona

o seu canto de esferas

contra os ventos.


Engajadas as ondas

num caminho

acariciam a pele do universo

e tornam o horizonte

céu errante

num círculo de sonhos

sempre aberto.


Espelhados os olhos

na tua ausência,

a praia é um recanto

azul

do eterno,

um presente de vida

na lembrança

do futuro de sonhos

que contemplo.

Na Terra Verde

Chove
Na terra verde nasce um céu de água e a cor renasce.
Teriamos o tempo de sonhar se os sonhos estivessem permitidos, mas é também o tempo de amar.
Gaia liberada.
O tempo de sorrir sol entre a chuva e cantar verde erva, dançar fecundidade.
Acariciar com Gaia o céu e gestar tempo verde, húmido, possível.

11 de janeiro de 2008

Luz


Entre o tempo a luz. O bafo universal, a linha que transcorre e deixa sonhos.

Entre a treva a luz. O sonho temperado que transcorre e deixa bafos.
Entre o silêncio a luz. O tempo, a treva e o bafo dos sonhos e as palavras.