31 de julho de 2008
Tingir
e olhar da varanda o dia
por pensar
qual é o vestido
qual é o ar
qual é a sombra
que se fez luz
e sempre recomeçar.
30 de julho de 2008
Paredes
29 de julho de 2008
28 de julho de 2008
Fios
27 de julho de 2008
Casulo
rostos que foram noutra era
o tempo feliz, o paraíso
da alegre juventude,
e no casulo estão,
certo, seguro...
Perfuma-te com Channel nº 5
se queres cheirar a mim.
Veste a túnica vermelha,
se queres nascer de mim,
borboleta nova no feminino
dos masculinos etéreos,
e voa sobre o som efémero
de cada noite,
renasce no tempo eterno
em cada amanhecer,
esquece sempre que já me conhecias,
mas ama-me desde o tempo do nascimento,
exibe para mim as galas novas
que guardavas no armário
do possível
e na esperança viva
de achar o teu nome
nos meus lábios abertos,
nas asas leves que estremecem
e conhecem os dias de sombra
e a luz.
Fruta
23 de julho de 2008
O Caderno Bizantino XX
a noite ao pé do café turco
e do narguilé,
escutar a oração
e olhar os mundos possíveis
do ódio e o amor.
Tu não estavas trás os muros da mesquita,
nem no Corno de Ouro,
nem no harém,
mas sempre estavas...
tão longa a tua sombra
e tanta luz!
Revela-te profeta
nos meus sonhos,
acarinha os meus versos,
estende a tua mão,
permite o beijo
de tanto amor triste
e feliz
em Istambul.
O Caderno Bizantino XIX
A sua cúpula sobreviveu impérios
e o seu verso um universo desejou,
mas eu não podia sentir mais fé
que a do desejo
e o nartex era a única oração.
Qual é a sabedoria que não temos,
a que nunca já fala de amor?
Rebelamos o tempo dos espíritos.
Não sabemos do tempo do perdão.
O Caderno Bizantino XVIII - Tempo de Allah
No céu estão juntos o sol e a lua
da primeira revelação:
Allah é o mais grande,
Allah é o mais grande
e faz nascer o dia na ablação.
II
Na cenita é a hora do silêncio.
Atestei que não há mais deus que Allah,
o único múltiplo, feminino e masculino
que entrega o máximo esplendor,
o som sem sombra.
Atestei que não há mais deus que Allah
e beijo o sol.
III
Atestei que Muhammed é o mensageiro de Allah.
Atestei que Muhammed é o mensageiro de Allah,
o seu profeta na hora na que a sombra
duplica a minha longitude
e dobra sempre o eco do que foi,
do que será.
Na tarde a oração
é o tempo fresco
da agua sobre o mar.
IV
A sombra estende mundos
e do minarete chama o instante do sol-pôr.
Vinde a oração! Vinde a oração!
O canto ascende no céu de Istambul
ate o rosto de Daniel na gloria do Pórtico em Compostela.
Vinde a oração! Vinde a oração!
V
Quando no céu ascendeu a estrela
e não se diferencia o branco do negro
nos fios nem no odor,
Allah é o mais grande!
Allah é o mais grande!
Não há mais deus que Allah,
antes do sonho da noite
a aguardar o tempo de amanhã.
Abraça-me, porque o caminho é longo
e conheço a brisa da cidade,
abraça-me na noite da Lançada
com as nove ondas,
abraça-me na arvore da vida
e no tempo dos chacras
cobre-me com luz de Bachue
na deidade longa que acaricia os ventos
do deus da chuva,
não há mais que Allah.
O Caderno Bizantino XVII
O Caderno Bizantino XVI
mas em Istambul
já estava Frank Sinatra
e cantava a New York
sobre a ponte de Ataturk
que na noite mudava a sua cor
e semelhava Brooklyn...
Eram os tempos do cabaret novo
e Frankie chegava a toda a parte
com exércitos de lindos coristas
azul marin
que repartiam canções e chocolates
na sombra da mesquita
e trepavam ao minarete
com tinges loiros para repartir
e o ultimo caça de confetti
em danos colaterais.
Os röm não tinham microfone,
e a voz estava intacta
mas na retaguarda ficara Santa Claus
que também tinha na saca
meninas de olhos tenros
que perguntavam
what will be?
com voz doce de Shirley Temple
e derretiam a guerra fria
para aquecer as montanhas
do longo Afeganistão.
As vezes o mundo era único,
tão formoso...
mas por que sempre que isto acontecia
brindávamos com a melhor reserva de coke
e falávamos todos em inglês?
22 de julho de 2008
O Caderno Bızantıno XV
O Caderno Bızantıno XIV
O Caderno Bızantıno XIII
e nadavam longe dos olhares da Gorgona,
entre a levíssima luz ınversa da manhã.
As filtrações do tecto reıteravam
a agua do meio-dia nas escamas
e a cauda se tornava mármore ırısado
se o sılencıo da brânquia
não alcançava o escudo de Pérsio,
camınho a Pérsia
e conhecıa os múltiplos vendedores
que descıam cedo a noıte da Cısterna
a procura de olhos mıneraıs ao pé de Medusa,
enquanto ao longe tangıam vıolıno na chama azul.
No estıo bızantıno apenas chove sob a terra
e no Nazar Bonju.
O Caderno Bızantıno XII - Setıma Ucronıa
Perıssıa VII
Perıssıa VI
as pegadas da sandália
no percurso do judeu
e o cristão ao pé do turbante luminoso
do neto de Ismael,
a partilhar o deus da terra,
o deus do céu,
com um chamam.
Uma voz de anjo predicou no meio-dia
o frescor da igreja alheia,
a paz dos séculos,
nos braços o abraço dos mundos,
num olhar o único paraíso
dos olhares na cor diversa
de uma luz.
21 de julho de 2008
Perissia V
Perissia IV
Perissia III
20 de julho de 2008
Perissia II
Perissia I - Paixões turcas
Em segredo me disse que era bonita
e eu olhei os seus olhos cor de mar,
o cabelo de areia em meio da paragem
da terra de Perissia
entre as chaminés nas que amaram fadas e homens
contra a mesma vontade dalgum deus.
Depois perguntou pelo meu nome
e convidou-me a uma noite de vulcões...
Ainda não chegara à minha pele
a cor da sua pele feita sol.
Levou-me ao fundo do bazar
para um presente,
falou com voz de mel na minha voz,
colocou no meu peito
um pequeno nazar bonku
de tenro coração.
Eros voava no vento da Capadócia,
quando Mustafa tomou a minha mão
e o rosto para um beijo breve.
Logo pediu mais.
Eu fui embora.
Outra vez chamou por mim o mar,
a oferecer novos azuis para o pulso
e uma paixão para o olhar.
Era tão novo o tempo desta Ásia,
os seus lábios eram mundo por beijar,
que eu disse não de novo,
e nem sequer sei se disse não.
Entregou cartão com nome,
endereço e também contacto em celular...
e fiquei com brilho de uma estrela
e noites de fada por sonhar.
As Folhas da Anatólia XII - Sexta Ucronia
os contos de Oriente
no tempo do sultão Aladino.
Cheirava a camelo e a suor,
mas os espelhos marcaram já ao longe
o brilho da arvore da vida
nos espíritos de terra e céu
e as pombas namoraram rouco som.
Na noitinha de inverno, trás a oração,
o espírito da seda crepitava
e a pedra do vulcão guardava
o calor do ouro e das espécies,
e o saber de Xerazade relatava
os sonhos antes de dormir
na terra dos cavalos formosos,
enquanto saboreavamos o ayran.
As Folhas da Anatólia XI
As Folhas da Anatólia X
As Folhas da Anatólia IX
19 de julho de 2008
As Folhas da Anatólia VII
na pedra amarela da paisagem e no céu cor Anatólia azul
da ultima suspeita liquida sob o sol.
Era o teu anjo novo que chamei com guizo dourado,
ele trazia o maná das lágrimas
ao ermo longo da espiral.
Este longo passo para a rota da seda
e os caravançarai
tem a linha extensa de cereal
por alimentar o sonho nómada
das expedições.
Era a surpresa no horizonte
o tacto das asas a sobrevoar
e cobrir do teu desejo o corpo,
com túnica de borboletas
e som de lume a crepitar.
Era este o passo da chuva sobre o mar.
As Folhas da Anatólia VI
Meu Iskender, o defensor dos homens,
que chegou ate Anatólia desde o mar
e fumava no bazar o nergile
de pêssego brilhante
e também dormia no meu ombro
o cabelo da cor do cereal
entre Ankara e Lago Salgado,
na longa chaira das colinas,
no horizonte, da terra ocre,
das breves oliveiras,
no ocidente de Ásia,
quando o tempo moldava
a doce travessia
ao pó das transições.
Meu Iskender, o Novo,
o filho das nove luas dos keltoi.
Esta longa auto-estrada
tem a seta das sendas
da ribeira fértil
e o teu destino é longo por sonhar.
Adivinho no teu tempo
as palavras
e os espelhos de agua
nesse olhar.
As Folhas da Anatólia V - Quarta Ucronia
As Folhas da Anatólia IV
18 de julho de 2008
As Folhas da Anatólia III
As Folhas da Anatólıa II - Ucronıa Terceıra
Passeamos a cıdade de Aphrodısıas
ao alvorar
nos relevos das portas
entre as que Vénus mordera a maçã.
Os cıganos crıavam corços de ouro velho
no Templo de Salomão
e os palácios otomanos
voavam em tapetes ate o sol.
As Anatólias tecíamos com lá de angora
gatos que pıntaram todo um mar
desde a chaıra longa
no camınho amarelo de sonhar.
As Folhas da Anatólia I - Ucronıa Segunda
O Caderno Bızantıno XI - Ucronıa Prımeıra
O Caderno Bızantino X
O Caderno Bizantino VIII
O Caderno Bizantino VII
O Bazar Egípcio é a calma
do movimento
a delicia das espécies
e o fume branco do narguıle de maçã.
Perco-me na Porta Leste
na inspiração do çay
com o caderno verde
e os olhos negros
a olhar meu tempo
que chegou do pais da chuva
a beira-mar
A poesıa é viva em cada voz
e os passos pısam saudades de amanhã.
A voz do turco.
A voz do sefardı
e o vento do encontro num cantar.
O Caderno Bizantino VI
Foto de Alexandre
Naufrago na taça do çay,
entre os aromas do kekikli
e a doçura do petek bal, o fanal de mel.
Aguardam as sultanas, kuru uzum,
mil delicias:
o lakum, com os figos kuru kayisi,
e a musica da manhã.
Já chamam a oração para o mihrab
e o ar povoa-se
de ascendente fé de iman
no dia de cuma.
Na Basílica da Sabedoria
procurarei a fortuna dos arcanjos
que pregam em Maria
enquanto oram a Ala.
Mendigarei espécies no imaret
com os lábios de Kosem,
a bela Anastácia,
a do rosto de lua, Mahpeyker
... so porque me ames como Ahmet.
17 de julho de 2008
O Caderno Bizantino V
os seis minaretes da Mesquita Azul
e a musica do rabab,
a merguile de cristal junto ao café expresso
e a luz.
Orei por um sol-pôr de paz
e dancei no ritmo espiritual
da ladainha na mesquita de Ala,
o único, o múltiplo,
o espírito do cosmos que esta em nos.
E alcancei a oração da noite
com a voz do muecim
antes de o sol dormir.
O derviche girava com a energia cósmica
na mão do céu
e a dadiva na mão a terra
e o uno no múltiplo por mim,
com movimento de uma túnica alva,
na que o amor se aspirava
de rosáceo éter
no ritmo sereno da mística
que povoa o tempo de ascender.
Tenho nos olhos canto de luz.
Tenho no ouvido o sabor de fé.
Tenho no tacto céus de uma cor.
Tenho no gosto odor de flor.
Tenho no olfacto agua a fluir
... e a dança dos astros levita em mim.
O Caderno Bizantino IV
O Caderno Bizantino III
um luxo de cor,
e a henna para pintar desenhos
e cantos de espera
enquanto no peirão se doura o peixe
na confluência,
no caminho a Tróia,
no caminho a Helena,
a chamada desde o minarete
e o sino cruzado do tremor.
O mundo torna túnica possível o nome da luz
e o sésamo nasce no paladar,
semente azul de Aquiles
que viajava ao Sul.
Quero orar na mesquita
o esplendor do mosaico bizantino
enquanto a questão eterna
dos anjos
aguarda tempos mais propícios
no lábio do desejo a latejar.
A ser canela no corpo e no olhar.
Os velhos sacerdotes não sabiam
da noite de espíritos revelados
no odor de amores encarnado
nas ausências longas de Penélope
e no corpo de Ulisses
com dom de carícia e mar...
As teias de Oriente,
os sínodos,
o mito e o logos a criar
... Ai Bizâncio, Bizâncio,
quantos véus ainda por tirar
na dança longa do velho mundo,
na textura dourada de um outro chá.
O Caderno Bizantino II
os nos do mundo, as escadas do submundo,
as portas da nova Jerusalém
para os céus que marcaram com fronteiras.
O tempo e o espaço verificam a relatividade
com pássaros de branco metal,
com peles e formas diferentes,
com olhar e passos que não tecem,
com bagagens maquilhadas de interior,
e os corações submergidos
em glorias e em abismos,
limites esotéricos exportados
ao espaço atmosférico,
extrabiosferico
sem dons.
A proximidade possível
une e afasta,
troca a cor do papel moeda
e intercambia sucedâneos
rosados do amor.
Este planeta não pode ser o mesmo,
inside, coke, inside,
não há interconexão
do abraço tenro que faltou
na manha das aguas
e não ascendeu no caminho global.
Nestas colunas
não permitem
a visa retratada com batao.
Ervinhas
16 de julho de 2008
De A Terra de Tir nan Og - Prefácio e Entrega
Para Gabriel Tuya http://elgatoutopico.blogspot.com/
Dinâmica
15 de julho de 2008
الحارس السماء
para o tempo das estrelas novas,
as que nascem lentamente
e são só luz.
Guarda o canto do sonho
e deixa a ursa parir.
Vai renascer a raça dos astros
e a aurora das canções
para tingir de laranja
o sino do que reinará.
Achega-se o tempo
das lanças de ternura sob o sol,
quando o senhor do vento
semeia corais
e a música torna redenções.
14 de julho de 2008
A roda
qual era o princípio da roda
e qual o final:
sempre o mesmo.
Sabíamos correr ao redor
sem parar-nos
até render o tempo
ao círculo exacto
da nossa própria curva
entre risos exaustos.
Sabíamos todas
as canções do corro
e unir mãos e olhares
em ritmos diversos,
girar e voltear,
estar e ser parte.
Passou tempo.
Foram ficando ocos.
As palavras cobreram de pó
nomes e cantos;
às vezes os recantos
tornam-se silêncios
e a recta se impôs
em triunfos exactos.
O ciclo deita a infância
entre versos de menta,
joga com os olhares
e renasce com sonhos,
volta, reviravolta
e voltamos revoltas,
giro, remexido
moinhada do moinho
... E mais uma vez,
começar a começar.