14 de agosto de 2010

Tecedeira

Descem os caminhos versos tenros
e volteam silêncios na palavra,
para que o eco sempre seja eco
e a distância não tenha distância,
nem sonhos reiterem sobre a palma
entranha ao ar e areia em leito.

13 de agosto de 2010

Luz

No tempo vertical,
a inexistência da sem-revolta
achega aos corpos esferas de ternura
e as Perseidas beijam espíritos de luz.
Nas florestas apreendem
os códices vegetais
ruturas leves
e passos para o sonho
das formigas azuis
na terra noite
do último recanto antes do mar.

12 de agosto de 2010

Harmonias de luz


Em tarefa de amor canto silêncios,
retorno ervas, terra pura
cor calcárea,
laberíntica presença
desde sonhos infinitos,
quartos espirituais e mitos,
longas tardes de mar
e seiva ao vento.

12 de junho de 2010

Na terra do milho

Era mansa às vezes. Só às vezes.

Queria, na tua pele, estremecer os sonhos

e depois caminhar sonámbula,

sem esperança sempre,

a dançar nos silêncios que me deixem,

pairar nas sozinhas primaveras,

em tempos impossíveis como a árvore,

a deixar raízes na sem-língua

e navegar em cada boca

enquanto canto

o sabor cereal da tua espera.

16 de abril de 2010

Se calhar era bom chorar,
pensar se há ou nao fronteiras,
olhar no tempo onda,
dor aberta,
reiterar leitos sem passado
e futuros sem leito,
quase amar,
quase ceibar raiba
e caminhar noites laberínticas
sobre os tacos mais altos que já achei
no teu papel de actor sem um cenário,
no teu papel de autor sem quarto ao Sul,
sem para-sol,
em telefonemas de puro baobab,
em revoltos correios por fechar,
despintadas as roupas a este vento.
Volto com o ritmo dos silêncios,
ao bravo metal da tua voz.

15 de abril de 2010

Os desejos sao casas de nao ser,
sonhos nao sonhados,
des-esforços,
ternuras de fe des-necessárias
na voz de um sorriso em pele e lua.
Entao moro o tempo de existir,
passos e olhares, vento ao vento,
e o prazer de um universo
por ter verso,
e o prazer oral do tempo
por ter verbo
e língua e amor e um sem-silêncio
... ser.

11 de abril de 2010

Rua do Tempo ao Sol

Duvido entre a pegada e o infinito,
na algibeira quadernos a escrever,
e uma volta a dias de silêncio,
nos cantinhos, palavras sem dizer,
e música na rua,
e som no tempo,
e sonhos neste quarto
e Abril ao sol,
no brilho da erva
os meus segredos,
nas noites o teu leito sem odor.

13 de março de 2010

Perder-se na gaiola

longe de egos

e aguardar que o tempo abra

as portas para viver...

até...

12 de março de 2010

Distancio em tempo chave de falar
e calo as palavras da gaiola,
ponho-lhe barreiras a este mar,
aguardo o instante porque chegue
o tempo que nem sei se vai chegar
e deixo num espelho nuvem rota
enquanto abro o teu olhar
no envelope dos sonhos,
reitero os morses de ternura
pisca-pisca de beijos a voar.

4 de março de 2010

Treme a Mae

Treme como o pulso destes sonhos,
generosa de águas,
pé de mar,
minha Terra, grande e generosa,
da ilha dos tainos , à casa dos mapuches,
volta a voz profunda a reclamar.
Confeso-me linha de loucura,
na doença do mesmo Lovelock
e choro com lágrima emprestada
por todo o raciocinio sem amor.

3 de março de 2010

No caminho da luz

Desabotoo o peito para a noite
abro a caixa dos segredos,
para me contar os contos de outrora,
retomo os caminhos que diziam no ar.
Doem na garganta os males velhos
de infância mal curada,
de espera fanada,
o medo da palavra atravancada.
Furou-se um pneu neste ciclo de som.
Avanço em linha opaca, com instintos
que tremem como a terra
neste tacto
e olho sem ver senda,
nem sonho de luz,
nem algum astro,
mas adiante, sempre
verbo em lábio,
na via Puro-eu a Nós-em-cor.

23 de fevereiro de 2010

Escada ao além

Se para ti descer era a fronteira,
para mim até é o infinito
e olho a chuva e o silêncio frio
com dor de sol solitário em rios
de energia meridiana
a explodir incógnitas de vida
no único sentido do carbono,
orgânica seta para acima.
Imagina um baixo a volume máximo,
imagina heavy, saxofones de ternura,
imagina Roma a arder sem calor
ainda
imagina que deito pé a escada
e deixo a sombra a dormir
em cama oblícua.

14 de fevereiro de 2010

O meu mundo

O meu mundo é pequeno,
fica entre a lareira
e a montanha,
uma linha de terra e fogo,
água de regatos...
Mas quando chego ao alto
o horizonte retorna ilimitado,
olhar de sonho novo
e grande abraço.

28 de janeiro de 2010

Carta de sonhos

Sem carta, perco-me no cenário dos sonhos,
a procurar cadernos para escrever
alter vida
e mora o tempo pleno nessas noites
pobres de pele, frias linhas,
horizontes sem dor,
das que acordo cansada para o dia.

Havia beijos. Tremia o beijo rei,
lambia o sentido da existência
neste amor antigo,
pele onírica,
dom dos leitos tristes.

Caminho pelo corpo das tuas páginas,
personagem roubada a ti mesmo,
para ter-te
ou encontrar-te
noutra história de amores paralelos.

19 de janeiro de 2010

Chegar beiramar

Achegar água, sem deixar
para ti mais cor que a cor que chega
e o vento a desenhar fronteiras
entre nós
o silêncio a medrar...

15 de janeiro de 2010

Sonho de Terra


Se posso despir o corpo, posso despir a alma
e dizer que nao é este o tempo de perder.
Meu amigo de alma e fala e pele eternas,
folgo em noites lentas teu nome junto a mim.
A comunhao mais mística de amantes esquecidos
é o meu santo e senha ante a porta de sal.
Pago em sonhos os sonhos
e em lágrima o acordar.
Os meus olhos retornam à dor da carne tua,
acusam outros beijos de antes se anunciar,
tentativas de assalto até o vento que chora.
Na Terra, o nosso verbo, semeia
dor de mae.