31 de outubro de 2008

Pedro Casteleiro

Foto: Celso Álvarez Cáccamo

Movem-se os tempos e a palavra dança
na voz bárdica do Pedro
e os anos deixam violetas na vida,
violas no odor, som de olhares
e abraço-verso cálido nas noites de chuva,.
Viajamos com Merlim a um quarteto em do menor,
Ith acompanha as longas travessias, amigo,
quanto verbo foi em vento a proa!,
quantas tardes de sol chegaram e fugiram.
Na noite de Samaim, alguém diz dos santos que estavam,
e dos mortos que pervivem,
morrer é renascer, já bem sabes,
renascer é morrer lágrima e cinza.
Esta noite existe fora o tempo, acredito,
e a tristeza?
Saudades, universos de cereal, muitas colheitas,
música mística da realidade no corpo da alma,
ficou...se a luz levita.

Em-cantar

Se abrir portas é fecha-las e fecha-las é abri-las,
o tempo é de janelas e eu quero voltar.
Nunca sonhas regressos? Há tempos que tornam vida,
e viver tem o silêncio companheiro a caminhar.
Estamos é ainda no umbral.

30 de outubro de 2008

http://portas-lapsos.zip.net/
http://novaaguia.blogspot.com/2008/10/escada-cu-sem-tecto-e-diz-de-ti.html

Torna-azul

Se a vista torna azul será o areal longo,
perto as ondas do mar que visitei.
Por ti curvaram-se as palavras
e choveu em água,
pinga de desejo
e disse eu sem dizer
e deitei um mundo ao sol,
à lua nova,
ao nada de mim,
rapariga simples,
meu amigo a beira-mar,
meu amigo, senhor,
vida a criar,
volta a dançar,
dança de amor.

29 de outubro de 2008

http://ilhadaveraluz.blogspot.com/2008/10/moinhos-velhos.html
http://renascimentolusitano.blogspot.com/2008/10/blog-post_29.html

A Preto e Branco o rio

O rio a preto e branco tem o meu nome
e conheçe-me ninguém
e caminhar é nadar águas de vento
ir e vir contos de sol a luz de lua
e dor de ser,
onde estava, pergunto, o brilho,
a cor,
a preto e branco o ser profunda tarde
cantar sem voz,
no impossível de resplendor
e silêncio azul.

URBES DE LUZ, PORTAS DE VENTO

FOTOGRAFIAS DE RAFAELA GÓMEZ CASERO
http://www.galeriajoselorenzo.com/otros_espacios/exposiciones_pasadas/ex_pasadas_rafaela_gomez_casero.htm

28 de outubro de 2008

Reverso


Era outono. Dizem que é o outono,
perto do Samaim, tempo de mortos.
Como os fantasmas na noite,
achego-me às horas e às imagens
e anda o desencontro a encontrar sonhos
longe dos possíveis
e das ondas e deixo de amor
a flor
a seiva tua
por me dizer infeliz,
por precissar-te
e chorar longo as lágrimas
que nunca chorei
e fechar portas
que nunca fechei
e que dizer
se há ondas no mar
e sal no sal
e flor na flor
e há saudade
do eu que foi, do que serei...

27 de outubro de 2008

14

Foto Álvaro G.L.

E tanto lembrar os tempos novos

que estavam velhos

como passados

e caminhar histórias

com estória

para iniciar amores

com pele leve

de adolescência

e voltas revoltas

no sentido

de ser, crescer, poder

mundo de mundos,

tempo do jogo a lusco-fusco.

26 de outubro de 2008

Omar

Foto: Álvaro G. L.

Meu senhor perdido e bem achado,
de longas terras e céus e água e brilhos,
quantas luas sonharam o teu sonho
e quantos sonhos dançaram no teu brio.
Homem do tempo e das palavras,
infinito de paz no abraço amigo
no olhar de vento, nas saudades,
na janela dos versos esquecidos.
Um dia voltará o teu perfume,
a procura de beijos redimidos
e perderás o tempo de perder-te,
meu senhor achado e bem vivido.

24 de outubro de 2008

RE-versos XI

A força de sonhar um outro leito
tornou-se rio em rio,
espera em vento,
remoinho de ti
o interminável
som de adolescência
e o caminho.
Voltar a ser flor
na flor da noite,
voltar para ser canto
no vazio
e perder com os braços
mesmo o nada,
o instante do café
que sabe a abismos.

23 de outubro de 2008

RE-versos X


Foram de pão os diase de fome os silêncios.
Cantava palavras sobre a água
e fume em cachimba
a caminhar o primeiro desejo
e o beijo era trigo
que navegava esperas.
Procurava cor de borboletas
se pecava, despida, cada aurora
por brincar a ser eu.
Também guardava os sonhos
numa caixa de luz,
voava no balanço até o céu
e prendia alfinetes
no tempo de medrar.
Reinos de ternura,inocências,
paraísos de amor,campos ilusos
e infinitos carnais
em cada olhar,
carícias de menina
a alvorar.

21 de outubro de 2008

RE-versos VIII

Do interior da rocha a lua engole
tecido de lagoas inéditas
e sonho triste na alegria
da chuva inversa,
e vivo doce no alento de ti,
nos ocos tantos que encho
de águas diamantinas
e aguardo
e desço folhas de outono
sobre a terra
e mineral aquoso
no reverso do céu,
no tempo mouro
das covas e a lágrima.
Sou filha ao fim dalguma serpe,
entre o fim e o início,
entre o início e o fim,
círculos intensos,
ronsel de chuva
em ti.

20 de outubro de 2008

RE-versos VII

Da luz e da saudade pouco sei,
mas tenho os tectos do tacto a flor de pele
e desenho desejos e há ocos de ti
na memória que nem encho,
e tenho o resplendor dos tempos
na ponta dos olhos da que nasce o mar
a fazer-me rio
aguardo um sonho,
penso luas,
remeto o envelope do silêncio
em verde cor,
saúdo a seta das concordâncias
e o ponto dial nas ondas
revertidas do amor livre,
livre em amor,
no tempo daqueles infinitos
entre os que te achei
em blues...

19 de outubro de 2008

RE-versos VI

Foto: Alexandre Brea

E como involuciono até a grafia de ti
e deixo o verso escrito à porta,
sem poder entrar
no teu leito, na casa, no beijo,
nos profundos ensonhos que te dizem
e em mim...
que estou em ti,
reverso longo de luz,
conca de lama,
espírito do lume
a tornar.
Como é longo o domingo,
o tempo de senhor,
que se faça a tua vontade,
porque é minha
e se abram os caminhos
sem espadas,
que a árvore volte
e os inversos
girem a pele e a conca
por levitar
até os fados antigos
da oliveira,
até o sarmento de nuvem
e o tempo de sonhar.
Digo das luzes, da cantiga,
do rio e do que está.
Ei, labrego, tenho botas,
caminho sobre os rios
e deixo-me fluir
de água em mim...

18 de outubro de 2008

RE-versos V


A orgia da flor estava em ti,
a orgia distanciada:
menta em noz,
lume em carvalho,
palma em areia,
mar em saleiro
e a actriz primeira
sem primeiro actor...
rosa dos ventos.

17 de outubro de 2008

http://soantes.blogspot.com/2008/10/iolanda-aldrei.html

RE-versos IV


Os futuros diziam que eram de comboios
dos que sempre levaram
a não sei onde indo por não sei quando,
outros reivindicavam as cercanias,
também eu,
futuros de cercanias,
irmão mago,
dos tempos do incesto a certidão,
amante alma,
do quando e do aqui e vidas outras,
qual foi o claustro do que nos tirou
o caminho de ferro,
o cenóbio antigo,
uterino, claro do galo que cantou o dia,
do sol que brilhava à noite na pele da carícia tua...
e procurar, enmeigada, claridade de arruda,
galo branco em caixa de prata, meiga eu?
meigas fora, meigos dentro,
entra a casa, meu amor,
e dizem que és tu o rei dalguma terra,
sim?
e há comboio ali
ou só as naves que guiamos em noites de ambrósia,
além mar, no céu mesmo,
ou na linha das proximidades ...
lento veículo dos futuros...
quanto tarda teu olhar real
a pousar na escola de magos,
na longínqua Cova de Salamanca,
ou sob a catedral de Compostela,
o Grial a amar, amante longo,
caminho de sangue e ferro,
espelho dizem...
e que dizes?
aqui e agora com a mala preparada
e a luz.

16 de outubro de 2008

RE-versos III


E quando é de ti o mover da aurora, o silêncio denso a olhar silêncio e como se olha o silêncio a nascer hip hop e heavy metal, tambor, ritmo, batuque, odor a menta e um tu lento a navegar os cálidos universos da internet e a nascer em verso sem ser verso e pirata de ti sem ser pirata e em mim abordar de corso em linha abordo e corpo nave e beijo em vento, bandeira, minha bandeira ... rei sem rei, pátria sem pátria, deus do deus e nome eterno.

15 de outubro de 2008

RE-Versos II

Era tão cativo o coração do anho,
tinha a textura puríssima do pecado
e a insistência impura
encarnada nos deuses,
no sabor que deixaras
em mim pelos séculos,
a mácula intensa da luz
de alma em alma
e a força segreda
do seu silêncio frio
a invadir-me na entranha.
Lateja em mim a dor
do último sacrifício,
o teu sexo em mim
medrava e ressurgia,
o tempo em coração
alongava texturas,
uma vida intensa
que aninhava na vida.

14 de outubro de 2008

Borboletas de luz

Na pedra e na luz o cláustro de vida,
sentir, consentida pelo silêncio azul
e tantas palavras no respirar
e tanto olhar perdido
como aquele sabor salgado do mar
e a lágrima, do sangue e a estrela,
e como sabia a erva a oceano verde
e a luz sabia a luz.
Sinto a manancial
mudança nova
no instante perdido
de janela iluminada.
Moro no verso que nem chega,
no verso das borboleas que nascem,
no casulo doce do meu ser.
Aro o tempo, aro casa em que viver
e a salmória é de retornos leves,
tinta de mar,
onda em onda
orar no dizer
e espiral
do verminho que fui,
e tantos nomes,
tantos rostos
que nem sabia voar,
mas sabia verde a erva verde,
e azul sabia o mar
e a textura da areia
que se tornava pele,
po de amarelo
nas assas,no ponto do esplendor,
na mais simples flor a libar
flor