27 de dezembro de 2009

O tempo tranformou-se em viver,
o amor em corpo do Sul
em leito abaixo a manar,
a terra em cor,
o sonho em vida
e falta o mar.
Lembro séculos de água,
a primeira pele escura,
e nascer na rocha tua,
a brilhar som
e ondas bravas
com dom de partilhar.
Agora moro na sombra da montanha,
nos limites entre a luz e treva tenra,
e abraço desenhos na lareira,
lume no lume, verso no ar,
verde a morar
borralha em flor .

18 de dezembro de 2009

Tâmega

Volto ao rio.
Apontam ínsuas sensuais
a escadarias novas.
Com pés no ar
apanho a corda
porque também descem as palavras
e são peixes os ritmos minerais.
Na flor da hora intermitente
voltam as saudades
e os ciclos intangíveis
desta água dizem de ti
que serás nuvem,
dizem de ti
que choverás
doze,
desde o alto,
longa nuvem
a manar
verbo reiterado,
pele verde,
lua velha
sobre mim.

9 de dezembro de 2009

Brilhos

No abraço colectivo aguarda o subconsciente,
os nomes de Sheldrake
retornam junto ao rio
e cria a vida verbo
sob a terra que mana.
Nasce o nome alegre
deste fruto galaico.
Aqui o nosso amor
foi telúrico encontro,
verde abraço
no vale dos sonhos encantados,
lar de lares, som lume,
nos passos a Occidente,
um encontro com asas,
no cosmos quotidiano.

4 de dezembro de 2009

Esferas

Como mundos,
pontos,
universos,
silêncios impensáveis,
silêncios...
Futuros reiterados
até nunca,
cosmos de pergunta
e fome eterna
sem resposta,
parábolas do verbo
ou terras ocas.

2 de dezembro de 2009

Beijos


Apenas me ficam lábios para beijar.
Há tempo que nao movo as palavras
com língua de arácnide,
há tempos que nao costuro
versos sem fronteira, para ti.
Agora beijo noites
sobre almofadas novas,
invento borboletas
nocturnas
sem chorar.

29 de novembro de 2009

Pele sobre pedra

Pele sobre a pedra,
doze o dia
inicia nos teus braços
um abraço de cor.
Explodem emotivas as danças mais segredas
e as violetas deixam
para nós
ascensos de palavra silenciada
até o amor.

27 de novembro de 2009

No pub Ultramarinos, no Dia Contra a Violência de Género

Foto de Óscar Antón García Pérez

Sao tempos de gaiola.
Primeiro abeirou o raposo e morreram as galinhas.
Depois encostou o frio e morreram os piolhos.
Entao era o tempo da morte para nós.
Mas naso quisemos.

26 de novembro de 2009

Olhares

Sem mais.
Volto os olhares para o porto
e voltam a mim.
Redimo o meu olhar próprio
nos próximos.
Aguardo os olhares que chovem
do mar.

22 de novembro de 2009

Voltei ao Magdalena.

No barco dançam sons e falam aves

a este céu de violinos.

Os arcos elevam setas e notas.

Desde a proa escrevo canto de manati

e assim os ensonhos se alimentam

de cartas dormidas e de amores

que aguardam rio em que ficar.

21 de novembro de 2009

Sobre a terra

Deixo a pele sobre a terra,
cozinho humus.
Aguardo trigo de inverno,
lume velho,
ninho frio
e olhares de ave
para ser.

19 de novembro de 2009

Aos pés

Em lençol plástico o silêncio de pegada que aguarda,
violentadas sombras de cantiga em falanges de parada
e amores que nem sabem de um nome,
mas caminham ao Leste
onde entornam o sonho e redimem
porque sempre é melhor chegar
que aguardar a que me beijes
se tiver em mim um ser
e imagens que se perdem,
o som oco das palavras,
matéria obscura,
nestas almas
até
que os passos sejam tarde
junto ao mar.

Água na Lua




17 de novembro de 2009

16 de novembro de 2009

Místicas e esperas foram vossas
ao pé de sonhos que partiam
em dois a noite
e me diziam
de amores tantos como habitam
no meu quarto mínimo,
entre rios,
na sombra das hortas subconscientes
e da dor.
Agora, nesta casa de mil cores
chamam vozes vossas
e confundo
as ternuras profundas
com lamentos,
os risos abertos,
com agulhas,
e as noites de tacto
com os dias fechados
até chegar ao corpo
e à alma
e amar a pares
na estadia,
no lábio adolescente,
no amante de bambú.

11 de novembro de 2009

Na moda dos tempos de ensonhar

Entre portas fechadas e quartos escondidos
guardam-se os fatinhos que a menina perdeu
e as modas novas e os dias trajados
de cores intermitentes e de montras cansadas.
Perdo chaves, gavetas, nego até os guarda-roupas
e sobre a pele espero uma pinga de som,
vestida com a chuva dos versos e as carícias
passeio pelos mundos do ensonho que passou .

8 de novembro de 2009

Demiurgo

Descem a chorar os espíritos da noite
pelo caminho que marcaras desde o Leste,
uma vez acordado pelo vodka aquele dom
e sei que choram de alegria.
É estranha a mim a vida,
é já fala em jornadas de agoiros,
meigas pretas,
e vigílias de amor
em que a ternura sobrepassa o prazer
e fala alto com outro nome,
quando me abraçam peles de ébano
e me deixam marcas
de luz e sombra
e a saudade é de nós.
Mas a música ainda ecoa e diz de dias,
confundidas as notas nesse mundo
real das ideias em que habito,
o amor de filósofos perdidos
com odor de cavernas
povoadas pela menta mais verde
que nascera em campos
de velho resplendor.

7 de novembro de 2009

Dormir... talvez sonhar

Era o tempo da vida a fugir o sonho lento
que tornava neve o corpo
e violentava os dias de ternura,
voltava a nós as asas
e queria ser um tecto,
viver, dormir... talvez sonhar.

6 de novembro de 2009

Da saudade

Passou o tempo de perder
e o tempo de sonhar ficou
no cesto pequenino dos cogumelos
entre cores minúsculas
de ser no sutil campo,
das últimas rosas em outono.
Perdidas as essências de um amor
fica o amor puro
e as saudades nascem da vida que prosegue,
enquanto voam lembranças
e as células dos mais puros espíritos
no corpo renascem a prazer.
Achegam-se as carícias das terras,
a língua destas vozes que me falam,
o espaço onírico do som
e o canto de um nós que se tornou
manancial de versos
e silêncio,
no lume do lar
luz e calor.

5 de novembro de 2009

E...

Vibra a madeira.
Números de pele sobre a erva.
Fungos a saprofitar sentires fundos.
Sempre e ainda a seiva por dizer
do beijo que nunca se tornou
vertical em horizontes
sem batuque.
Mas estou.
Vibra a madeira.
Desejo acarinhar também eu o soco da tua nuca,
e tornar na curva para o ramo
flor das tuas flores mais segredas.
Madeira em flor, vibro em amor,
longe dos pertos de cada dia,
tremo com tactos vegetais
e...

4 de novembro de 2009

Da minha aldeia

Eu era a menina que nao tinha aldeia
e desejava terra para arraigar.
Uma vez semeei batata no quintalzinho
e nasceu.
Uma vez menti e contei que tinha aldeia
e pensava nos carreiros breves
e em tanta erva para alimentar os olhos
e em tanta luz para regar os sonhos
e em liberdade,
na longa liberdade sobre a sombra do tempo
e dizia a esperança naquela mentira,
pequena, como a língua que entao a deleitava
no espírito de mátrias e cálidas cozinhas,
este canto de hoje à aldeia que me habita.

30 de outubro de 2009

Achegar Samains

E aguardo o tempo novo,
comungo com a seiva salvagem,
com os fungos,
para viver eu morro
e deixo a fibra livre
a remediar
os encantos da fonte
e este lume
de abraço desejado,
e lar ao vento.

29 de outubro de 2009

Ruas

Caminham pelas ruas. Eu quero estar na casa.
Saio por dizer que já chegamos e nem chego.
Lembro como beijamos na rua cada pedra
e foi nossa perto dos sorrisos
a espera da alegria que de longe
aguarda no teu olhar sem mim
e no meu olhar sem ti,
para o tempo que dormem as mouras,
para as saudades todas dos poetas
sobre a carne.
Se algum dia houve ruas
foi nesta dor, naquele tempo.

28 de outubro de 2009

Guardachuvas

Sob um guardachuvas levo ervas por vender
e acheguei-me ao silêncio enquanto chovia
e as palavras desciam pelo corpo a dizer
todas as verdades esquecidas
e eu levava o guardachuvas
no tempo das distâncias
sob as presenças líquidas
um guardachuvas,
um rosto sem olhares,
a esconder os cantinhos
e viver no interior da teia
com cada uma das cores
até que entao um dia
deixe o sonho de chover.

26 de outubro de 2009

Fantasmas

Como chegam os quartos de aguardar até nós e ficas em silêncio e deixo o tempo a ocupar apenas um bocado mais de tempo, e as luzes tenras a calar e fechar portas que ainda estavam e os anos que passaram sem passar, pelas penas das nossas tristes asas. Anjo de cor, leve e antiga borboleta nos espaços da pedra universal a tornar as salas da lembrança na saudade de vida que me abraça.

25 de outubro de 2009

Lar

Voltamos ao lar e acendemos o lume,
junto a nós forneou-se o tempo da paz
e as lágrimas foram palavras sem fume,
cantos de mundo em beijos de ar.
A Terra Verde achega outro sonho,
cheira a outono e volta o cantar,
os silêncios falam de madeira velha
que brinca com ritmo de infância
no val.

23 de outubro de 2009

Sambonanai


Sambonanai canto e o canto ascende
e assim descende outro cantar
e as balas calam com seu silêncio,
o novo alento de um acordar.
Chegam os povos aos povos mesmos
e os campos logo sabem sonhar
e sonham cores, frutos intensos,
os tactos verdes do cereal.
E risos novos que nao lembravam,
quando nao era Sambonanai.

22 de outubro de 2009

Convite

Caem as landras e prometem tempo novo,
frio esforço de terra a dormir,
céus de chumbo,
aparente é a morte,
mas a Mae prepara já um lar novo
e temos o sono por sonhar.

21 de outubro de 2009

Orson

Sem saber ser personagem, velho Orson,
sem saber que o teu olhar
torno meu
e nele escrevo as histórias
com tinta de esperar
enquanto chega o frio
e passam mais passos
e migram mais aves
e tu ficas,
memória dalgum rosto
sem pintar.

20 de outubro de 2009

Desfragmentar

Volteamos as palavras até o abraço,
a mais pura linguagem do amor puro...
os corpos a falar em luz violeta.
Quando tornam fragmentos
chovem vidas.

re-PArtiR

Fragmento em rostos e em momentos
cada uma das histórias
e a vida sem palavras
passa
e fica o chumbo,
um céu cinzento a navegar
memórias novas
e a pele que se torna,
por silêncios, dor de noite,
enquanto os ecos podem
dizer que ninguém
nunca
me amou tanto
como me amas-te tu.

17 de outubro de 2009

Rostos rotos

É olhar ao longe e tempo ao Sul,
mais um, assim, mais um
para a contagem longa dos passados
e os saberes velhos sobre abraços
que também se perdem,
e a pegada triste no leito cada noite
de quem já está no livro dos amores
em página fechada e sal ao mar,
assim, mais um em rosto roto
de olhar a cor,
falso silêncio
e, ao fim, o tempo de ficar .

14 de outubro de 2009

13 de outubro de 2009

Ilhas de céu

Voavam passaros de morte e chegava Lugh,
amigo logo,
meu amigo de capa preta e sorte ao vento.
O som das fragas velhas ecoava
e se amavam as cores para ascender nos astros
e para que na terra as águas fossem olhos de ti.
Voltavas com a força de um heroi
e o peito nu e as espadas a doer na marca triste,
a estirpe dos homens do caminho,
mas o canto verde feito carne
na luz dos futuros e as palavras,
filho novo em ascensos ao infinito.

12 de outubro de 2009

Desenho-te de sereias e sorrisos.

Desenho-te e nasce uma banana.
Proibes a cor
e o amarelo ri desde os pés ao cabelo.
Bebes nuvens e tatuas-me no fume das palavras,
e queres brincar ponte em primaveras,
golfinhos e rios violeta,
viagens entre os cosmos e o silêncio.

11 de outubro de 2009

Cantiga

Voltamos à Ilha quando volta o Outono
com saudade do futuro por chegar
e desejos de lume, lar, castanhas,
peles num abraço de asa e ar
e sonhos de novo santuário,
e esperas ainda por sonhar...
A Terra Verde é amarela
canto e filhos por amar.

24 de setembro de 2009

Lumen

Desciam liberdades da esperança
e a morte era leve... como sempre era leve...
Figura de luz na cena das vozes evocadas,
abraço de mundo ao mundo,
entre cor barro e sonho, um corpo iluminado.
Mar de lume e entranha de borboleta em ferro,
salto de astro velho, amante despiadado,
visita-me nas noites, quando chegue o inverno
e deixa-me o sabor da tua sombra nos lábios.

13 de setembro de 2009

Desfotografar


Perco a realidade e o sentido omnisciente
das ontologias tristes.
Descapitalizadas, as borboletas pintam
e os rostos encantam o silêncio.
É o tempo das fadas e dos anjos,
nosso tempo de entornar a porta
e o centro comercial, e o cristal e o aço,
por desbandar as palavras
no bico azul de todas as pombas e as mensagens,
e os amores das meninas que querem virar o corpo
e voar
para sempre
em som de ave.

3 de setembro de 2009

Lume adentro

E chega o tempo frio e o lume está adentro,
na entranha, no som que foi do tempo
e estás onde nem sequer eu quero
e estou, ante o sonho mais ardida
que um dia que foi
e que um signo de amor
e que a vida de ardor
e as revoltas sem mar...
e o canto de nós, fogueira em flor,
também candor...

27 de agosto de 2009

À janela

À janela nascem os tempos que aguardamos,
do alecrim e da rosa,
de silêncio e palavras,
e deixam a sua vida a dormir entre as sombras,
até chegar a nós como luz em penumbra.
Prometem na janela os tempos dias novos,
nem sei se a meia-luz, nem sei se a meia-sombra,
nem sei se de esplendor ou profunda negrura,
mas assomo os cantares de azul, caminho novo,
e resguardo os cadernos nas memórias profundas.

26 de agosto de 2009

Vender o mar

Queria vender o mar,
apenas a lembrança foi descida
ao tempo de comprar
em que a moeda canta
e achegam as sereias
vida com vida,
tempo ao som:
livre a canção ...

24 de agosto de 2009

Vegetal

Transformo em vegetal a pele, o sonho
de tocar a terra com raíz e alma
e até o solo chego e até o ar me elevo
com humidade nova
... verbo...

23 de agosto de 2009

Semente da terra de perder

Da terra de Ilião partiram naves,
do incêndio último nas horas de folgar,
nascera a cúmbia à beira da estrada
acendidos o sexo e o farol,
vermelha a pomba ainda a guardar,
Hécuba,
a dor da guerra no quartel do sem quartel.
O deus sabia do livro dos feitiços
mas ficara no ventre de um corcel,
no leito de tantas perdedoras,
no leito da noite a recrear desertos
e acreditar amores que têm hora,
quarto, preço e condição.
História de princesa já sem reino,
maldição de ventres de ocasião.

22 de agosto de 2009

Os desbordados da brancura

Para a Iara, meiguinha que sabe calmar os ventos e tornar a terra lar... sempre!

Andamos assim, com os silêncios trocados,
no passeio dos rom sobre a terra,
nos recitais externos dos recintos
ficamos de lento suspirar,
cesto vazio e coração de mundo a respirar.
Nós, os desbordados da brancura.
Nós, os herdeiros do conde do egípcio menor ,
os irmãos da tardinha que não chega,
cor nómada da lua que nunca mais cantou.

Na auto-estrada de Nós até a Ucronia


Para o Alexandre, meu companheiro de viagem, filho também do vento e a palavra, que conhece as auto-estradas a utopias, ucronias e esperanças. Sempre com olhar verde, tom valentia... Depois de voltar...

Na auto-estrada de Nós até Ucronia
não se movia o vento
e o mundo era apenas uma via
sem passo para os meninos
que não tinham carro novo
para logo regressar
no cair da noite com dom de frutos
ao palácio de terra e tecto zinco,
os reis de anel perdido e novela,
Sempre a vida é bela,
as princesas de nome sem raiz,
janela aberta, vertigem nova,
escorrega a um chão no que morrer.
A terra prometida dos que sofrem,
o jardim de quem jardim não tem.

21 de agosto de 2009

Somdamor

A barca do cacique porta brilhos gerados na utopia,
atestados com ouro de lei cerimonial
no umbigo do mundo, em Guatavita,
no labirinto do sol até a Anatólia ao Sul.
É de ritos o nome desta terra
e a pegada dos mares é canção.
Dizem alalás e dança o
na roda das troianas sem-papéis,
no batom dos beijos não nascidos,
na entranha caribe dos keltoi;
brota o berro velho e resplandecem
as armas e mana o suor de PotosÍ,
o alento agre,
bulício de látego, ânsia de ar
até as naves de fúria e sem-perdão .
A procissão dos vistos sem cantares,
estremece a chuva deste som
e fundeia na vaga o sacrifício.
Na oficina do templo há um recibo,
na cova dos cambistas fica a dor.

20 de agosto de 2009

Olho por olho

Digo-te: olho por olho.
e ainda mais,
digo :olha-me que te olharei,
e que as linhas olfactivas furem glândulas,
que os tactos pintem mapas
e o sabor dos silêncios se confunda
na sinfonia brava do interior.
Digo-te: olho por olho
luz por luz e cor por cor,
vento teu que assente vento,
pausa em tempo,
tempo em dom,
alento violeta dos inícios,
miradas desdentadas
digo, amor.

19 de agosto de 2009

Fios

Aninho no carvalho,
no esplendor da seiva nova,
fio seiva em ti,
seda leve que ata puros actos
e memórias incosciêntes
por marcar as costas com as unhas
e sentir os dias casa longa.
Velha aracne, ai, suspeita minha!
Vibração,
berço em folha,
ai, flor de vulvas!
Sombra e alva,
corpos quase
abraçados na hipnose
do ar holístico.
Morte leve nas noite,
mais estios...

18 de agosto de 2009

Tempos de esquecer

Lavar sem água, minha Joana,
peitear com sonhos versos velhos,
ensalmos de luz, tempo de inverno,
longa noite de vida a morrer ermos
e nos olhos tanta espera como alma
e nas terras um silêncio que é palavra
e nas tempas, a palavra que é silêncio.

17 de agosto de 2009

Meigas fora

E se chegaram, era o tempo de chegarem.
Janelas fechadas.
Ninho na cama.
Medo.
Dias de pragas e destruição,
invadidas boas terras pelas silvas,
invadidos os silêncios pela dor.
E a dormir os espíritos,
até o berro: meigas fora!
Cantam asas no grimório,
abro a casa até o amor.

2 de agosto de 2009

Luz de vidro

O tempo fica aluado e sorrio como a luz,
entre cristais.
Nos sonhos volta o mago e o anjo
e na carne volta o Sul.
Sempre as ilhas,
para além e aquém
das cinzas de Ângela e Samaná,
entre pele e alma,
a lembrança e o tempo de acordar.
Sei de ti que moras longe,
sei de mim que estou em férias,
sei de fé que chega aos tempos
de querer
e brinco entao sobre as florestas,
puro signo e profecia,
em Canterbury,
onde um santo deixou sombras
por amar.

31 de julho de 2009

Luz de luz

Voltou da noite escura
simples, a luz.
Renascia com fortuna
do nada, renascia
e voltava a vida longa
a paz de tempo que foi.
Falou espírito ao lume,
revoltou a alma ao sonho
e a palavra foi de flor.