29 de novembro de 2009

Pele sobre pedra

Pele sobre a pedra,
doze o dia
inicia nos teus braços
um abraço de cor.
Explodem emotivas as danças mais segredas
e as violetas deixam
para nós
ascensos de palavra silenciada
até o amor.

27 de novembro de 2009

No pub Ultramarinos, no Dia Contra a Violência de Género

Foto de Óscar Antón García Pérez

Sao tempos de gaiola.
Primeiro abeirou o raposo e morreram as galinhas.
Depois encostou o frio e morreram os piolhos.
Entao era o tempo da morte para nós.
Mas naso quisemos.

26 de novembro de 2009

Olhares

Sem mais.
Volto os olhares para o porto
e voltam a mim.
Redimo o meu olhar próprio
nos próximos.
Aguardo os olhares que chovem
do mar.

22 de novembro de 2009

Voltei ao Magdalena.

No barco dançam sons e falam aves

a este céu de violinos.

Os arcos elevam setas e notas.

Desde a proa escrevo canto de manati

e assim os ensonhos se alimentam

de cartas dormidas e de amores

que aguardam rio em que ficar.

21 de novembro de 2009

Sobre a terra

Deixo a pele sobre a terra,
cozinho humus.
Aguardo trigo de inverno,
lume velho,
ninho frio
e olhares de ave
para ser.

19 de novembro de 2009

Aos pés

Em lençol plástico o silêncio de pegada que aguarda,
violentadas sombras de cantiga em falanges de parada
e amores que nem sabem de um nome,
mas caminham ao Leste
onde entornam o sonho e redimem
porque sempre é melhor chegar
que aguardar a que me beijes
se tiver em mim um ser
e imagens que se perdem,
o som oco das palavras,
matéria obscura,
nestas almas
até
que os passos sejam tarde
junto ao mar.

Água na Lua




17 de novembro de 2009

16 de novembro de 2009

Místicas e esperas foram vossas
ao pé de sonhos que partiam
em dois a noite
e me diziam
de amores tantos como habitam
no meu quarto mínimo,
entre rios,
na sombra das hortas subconscientes
e da dor.
Agora, nesta casa de mil cores
chamam vozes vossas
e confundo
as ternuras profundas
com lamentos,
os risos abertos,
com agulhas,
e as noites de tacto
com os dias fechados
até chegar ao corpo
e à alma
e amar a pares
na estadia,
no lábio adolescente,
no amante de bambú.

11 de novembro de 2009

Na moda dos tempos de ensonhar

Entre portas fechadas e quartos escondidos
guardam-se os fatinhos que a menina perdeu
e as modas novas e os dias trajados
de cores intermitentes e de montras cansadas.
Perdo chaves, gavetas, nego até os guarda-roupas
e sobre a pele espero uma pinga de som,
vestida com a chuva dos versos e as carícias
passeio pelos mundos do ensonho que passou .

8 de novembro de 2009

Demiurgo

Descem a chorar os espíritos da noite
pelo caminho que marcaras desde o Leste,
uma vez acordado pelo vodka aquele dom
e sei que choram de alegria.
É estranha a mim a vida,
é já fala em jornadas de agoiros,
meigas pretas,
e vigílias de amor
em que a ternura sobrepassa o prazer
e fala alto com outro nome,
quando me abraçam peles de ébano
e me deixam marcas
de luz e sombra
e a saudade é de nós.
Mas a música ainda ecoa e diz de dias,
confundidas as notas nesse mundo
real das ideias em que habito,
o amor de filósofos perdidos
com odor de cavernas
povoadas pela menta mais verde
que nascera em campos
de velho resplendor.

7 de novembro de 2009

Dormir... talvez sonhar

Era o tempo da vida a fugir o sonho lento
que tornava neve o corpo
e violentava os dias de ternura,
voltava a nós as asas
e queria ser um tecto,
viver, dormir... talvez sonhar.

6 de novembro de 2009

Da saudade

Passou o tempo de perder
e o tempo de sonhar ficou
no cesto pequenino dos cogumelos
entre cores minúsculas
de ser no sutil campo,
das últimas rosas em outono.
Perdidas as essências de um amor
fica o amor puro
e as saudades nascem da vida que prosegue,
enquanto voam lembranças
e as células dos mais puros espíritos
no corpo renascem a prazer.
Achegam-se as carícias das terras,
a língua destas vozes que me falam,
o espaço onírico do som
e o canto de um nós que se tornou
manancial de versos
e silêncio,
no lume do lar
luz e calor.

5 de novembro de 2009

E...

Vibra a madeira.
Números de pele sobre a erva.
Fungos a saprofitar sentires fundos.
Sempre e ainda a seiva por dizer
do beijo que nunca se tornou
vertical em horizontes
sem batuque.
Mas estou.
Vibra a madeira.
Desejo acarinhar também eu o soco da tua nuca,
e tornar na curva para o ramo
flor das tuas flores mais segredas.
Madeira em flor, vibro em amor,
longe dos pertos de cada dia,
tremo com tactos vegetais
e...

4 de novembro de 2009

Da minha aldeia

Eu era a menina que nao tinha aldeia
e desejava terra para arraigar.
Uma vez semeei batata no quintalzinho
e nasceu.
Uma vez menti e contei que tinha aldeia
e pensava nos carreiros breves
e em tanta erva para alimentar os olhos
e em tanta luz para regar os sonhos
e em liberdade,
na longa liberdade sobre a sombra do tempo
e dizia a esperança naquela mentira,
pequena, como a língua que entao a deleitava
no espírito de mátrias e cálidas cozinhas,
este canto de hoje à aldeia que me habita.