4 de julho de 2008

Anjos

Soava ao longe a gaita
que sempre soa ao longe
nesta Terra.
Tangiam perto os sinos
que sempre tangem perto
em Compostela
e chovia de amor
no chão e na face
... chovia de amor,
que sempre de amor chove
ao pé da Berenguela,
onde a Quintana
é porto de um mar alto de pedra,
um mar de águas doces
e naves de sol-pôr.
O meu corpo recendia a mel
e tinha o tempo exacto do retorno
para os pés descalços
náufragos
sabedores dos abismos tristes de outrora
e dos destinos etéreos das memórias
no Grial.
Em esplendor de ruas, templos,
praças, seiva cálida,
abriu-se o céu da Jerusalém antiga
e desceu um cascavel silandeiro à minha mão
que chamava aos anjos da Corticela.
Beijei os beijos.
Teci de solidão os tempos de estranho estio,
bebi das fontes longas de sal
e respirei odor de astros,
cor de alvorada, ritmo de mar,
caminhos lentos, vida de passos,
dia das vidas plenas de som:
se chove, chove,
se venta, venta,
o sol ascende no coração.

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