2 de novembro de 2008

Nascia em saudades beijo longo

Dizem que são versos os desejos e as saudades,
mas latejam ainda no ventre como sonhos
e têm de ti ânsia de beijo em beijo longo,
dizem que foi a palavra o que nascia
e que de ti tornava o vento força
na terra dos mil véus.
Moro no templo, na mesquita,
no lupanar insólito das brisas
e de ti parto em ti e da palavra,
alimento os meus peitos com a terra,
lavo o meu tempo com os nomes
e digo conchas de bivalves
por sentir a tarde côncava de amar
a beira-mar, a longa noite convexa de lutar
...As conchas que tornavam na maré nova,
e traziam venéreas inquietudes desde a Firenze,
as que achegavam o sentido da deusa
com franqueza de meninos a brincar
paz libertária e luz de seiva.
Voltamos escudo o lar da vida,
espelho de Medusa sobre as mãos
e lançávamos raios guerreiros
de lutadores galácticos
ao porto esquisito,
ao ecrã anacrónico do Pérsio já ancião
que nunca chegara ao Éden,
por incendiar florestas e solidões..
E dizia de africanas terras,
da planície de Ásia,
dos pagos de Tir-nan-Og...
quando vai chegar a liberdade amada?
a carícia capital descapitalizada,
a treva profunda da pele cósmica,
o nós se apenas iniciamos este jogo,
descobrimos os tactos e as feridas
e derramamos fluidos redentores,
rios que nos erguem até o sol.
Por dizer,
se tanto verbo não serve para amar-nos,
como vai crescer no cosmos som?

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