6 de agosto de 2008

Voz

Alonga-se o tempo e fluem as águas:
aqui se inicia o mar.
Da mão passam as vozes,
alguma voz de cana,
alguma voz de vento,
alguma voz de ria
e sempre a voz na pele,
a tua voz...
Há tanta fome no mundo,
tanta tristeza à deriva
que vibra nalgum oco
a mesma saudade
de tornar simples as páginas iniciais
e feliz o caminho na marca do sol
quase à tardinha na esplêndida solidão.
Passaram incêndios e batalhas.
Ficou a palavra a beira-mar,
tenderam pontes sem direito
e no universo que se devia amei,
amei e amo aquele rosto como um grial,
amei no corpo e amei no verbo,
bebi das fontes, naveguei no onda de Afrodite.
A força dos pulsos retrógrados
mediu-se com fartura já,
verificou-se o empate técnico,
remoinho na água, a dor na dor,
baldio no baldio, ermo no ermo,
ninguém venceu... nem mesmo o amor.
E ainda assim amo e desejo
e vejo peixes ainda a saltar
e lembro olhares de borboleta
e versos longos no paladar.

Sem comentários: