24 de agosto de 2008

Poisson sur la nuit

Há um piano em meio da rua:
Imagino sinfonias de longo caminhar.
Há um caderno e um lápis
sobre o banco de pedra:
Imagino escada de água fina a borbotar,
e nasce o som.
Passa a troupe da noite
antes do último sino
e o seu olhar redime da tenra solidão.
Alguém se achega e eu sempre sorrio
"merci" diz, ai amigo, e tu sabes quem sou?.
O último dos saltimbancos ve que estou a fumar,
"tens para mim um cigarro?"
ofereço ainda outro,
a esta hora não sobra
um pouco de ilusão,
"e... queres que te acenda?"
-"Ui, dito assim,
acende-me, mulher"
De flores no caderno,
adeus homem que passa,
aqui vou-te pintar
num verso longo e azul.
"Ficas listo?",
"Algo bobo, mas dá para viver"
À noite do meu leito só chega o cabaret.
Definitivamente o anthropos é um ser gregário:
grandes grupos e pares e a minha solidão...
Que lugar ocupo na noite em Compostela?
Oferece-se bachata ou salsa por dançar.
A pele deste agosto
tem estrelas sozinhas.
Não posso dormir sempre,
não posso sonhar mais.
Há luzes de anjo,
mas sinto pedra e frio,
olhos de menina
que acendeu um farol
e abriu uma era
na janela do sou.
É tempo e sombras
no blues do oceano,
ninguém chamou hoje à rua coração.

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