31 de março de 2009

Ninho aberto. Para Cláudia. Para Mari Carmen

A nossa casa é a casa inteira,
ir e vir, vir e voltar,
o percurso de vindas que se achegam
ao tempo azul do mesmo mar
e ficam nas palavras e nas rotas
nos sonhos de sonho e ninho aberto
a uma mesma rosa que é de ventos.
Navegamos paisagens e cantigas,
sutaques, climas, rostos, também almas;
chegamos em cor das mesmas cores
como aves que voaram sobre as águas
e ficamos sem ficar,
nômades todos, mesmo os que acreditam
que têm pátria,
quem diz que a pátria é uma língua,
quem pensa que o amor é sua pátria,
quem desce na memória do seu rio,
quem vive no lar das esperanças.
A pátria vai connosco, companheira,
no braço saudoso da palavra.
A mátria é memória das memórias
e deixa o seu rasto nos olhares.
As cadeiras colocam junto as mesas
mesmo nas terras mais distantes
e nos antípodas os pés ficam no solo
e as águas chovem céus e folha as árvores
e os sorrisos também sanam as penas
e os beijos e as lágrimas dos amantes
conmovem na mesma saudade
mitocondrial lembrança do homo sapiens.
Sempre para ensinar se aprende
a comprender o calor de outros lares;
sim, para medrar se aprende
que em cada ninho houve um migrante.

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