22 de junho de 2008

África no Sul


Ai minha avó, a rulinha, a que foi a África
-contaram-me quando faltou, nos meus cinco anos-
e lá continua, sempre ao Sul
a alimentar as horas da roseira.
A avó dos olhares liberados,
a que ficou num ciclo de nove anos
a aguardar... a livre Maria,
a que gostava do amor e a terra nova
e sempre aventurava o coração,
... a das letras desde o outro lado do mar,
minha madrinha de abraços e ternuras.
Hoje chega esta carta para ti,
sei que a vás abrir com gosto
e que vás compreender na estirpe tua
os sonhos da pequena que ficou,
a que voltou à terra, à mátria verde
dos Pelaios,
ao pé do Pico Sacro,
onde o teu sangue é memória
e as laranjeiras podem florescer.
Minha avó, a filha da aguadeira,
uma casa longa por sonhar,
e uma ilha...
tantas Penélopes em nós,
minha Madrinha, Rulinha,
entre a cozinha e as teias,
a coser vida
e horizontes,
por amar.

1 comentário:

Anónimo disse...

Muitas vezes me comovo ao ler poemas teus. Quando vais reunir tudo ou seleccionar para publicar um livro?