11 de junho de 2008

Primeiro oráculo


O primeiro oráculo chegou ao areal de Razo,
falou com voz de vento sobre as águas
e arrastou pedrinhas até a areia,
arrastou pedrinhas até a alma.

Falou directamente ao espírito,
rodeou-me de som,
ensurdeceu-me,
amou-me com todo o frio do mar grande.

Escavou nos poros da minha pele,
revelou-me meninha de olhos grandes,
esfregou-me com as vagas precisas
do útero materno,
ele, homem, ele mãe, ele oceano.

Chamei-lhe deus e respondeu,
disse: - Ó deusa e tomou-me da mão,
da sua mão preatómica,
do caos inicial onde eros triunfa
e a terra se criou
e o céu se fez de céus errantes
em união livre de amor grande,
naquele tempo no que tinha que nascer...


Estava despida.
Tapei-me.

Pediu-me: - não te vistas,
despida sempre busca o mar,
submerge-te.


Pediu-me: - não finjas, vive
e prometeu-me, disse: - vás sofrer,
é um túnel longo o caminho da luz.

Pediu-me: - Sempre abre os olhos,
abre as mãos e chora,
mas não deixes o medo
passar da tua porta.

Pediu-me: - Não ponhas portas ao medo,
deixa-o entrar, fala-lhe calmo,
olha-o aos olhos,
é um pobre meninho
que não chegou a nascer.

Pediu-me: -Nasce.
E iniciou-se o cômputo das nove luas
a contar desde o primeiro oráculo.

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