28 de fevereiro de 2008

Fibras

Tecer, Penélope, tecer...
olhar adiante, reclamar a presença,
o dia, a liberdade, a inocência,
os tempos de amar em linhas novas;
tecer linho de tempo e bandeira,
corpo de mulher sobre a aurora,
caminho de presentes e roseiras
com dereito de alfândega no gozo.
Tecer os nomes da esperança
e a verdade na fronte das estrelas.

Destecer, Penélope, destecer,
mas destecer sem vergonha,
porque queiras, porque chegue
em tempo a primavera,
destecer o ódio e as mentiras,
destecer o tempo das esperas,
destecer direitos de pernada,
destecer deveres de doméstica,
destecer amantes de olhos tristes,
destecer propósitos de emenda,
destecer caminhos do teu mapa
que não levam ao centro da floresta.
Destecer e tecer as borboletas
em teias de palavra e vida inteira.

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