15 de maio de 2008

A Terra de Tir nan Og IV


Deste lado do mundo, no teu oriente,
no fim do planeta que sonharam
povos que temeram a morte,
no mar no que o sol dorme cada noite,
no teu bosque que recomeça,
no teu tempo do sol nascente:
Desde a relatividade mais absoluta,
escrevo-te desta pátria e destas gentes.

A terra em que nasci e forte e boa,
de mulheres que tecem e homens que aventuram,
uma Ítaca formosa e sempiterna
na que algumas Penélopes se negaram a destecer
e na que algum Ulisses ficou sem ir a Troia
- há também Penêlopes que viajaram,
com ou sem Ulisses a Ilião
ou destinos novos que a história
escreveu para além do Egeu triste-
Uma terra deitada junto ao mar,
como disse algum dia Celso Emílio.
As suas sendas são de vida.
Os passos se enraízam e medram em caminhos
que amahecem em bosques verdes,
cantam nos carvalhos,
trepam ao loureiro e às nogueiras
e se achegam ao rio com salgueiros.
Nasce a alva de névoa e de rocio,
de aves escuras e canto claro,
tingindo os tempos de luz ténue e acordando.
Os montes são macios, de veludo,
e acariciam vales férteis e húmidas aldeias,
nas que canta o galo canta na manhã
e nas que tarde chove espera antiga sobre as ervas.
O nosso mar é promessa, pesca grande,
tempestade e morte, ou senda viva
a prolongar a Ultramar antigos cantos
e a tender redes de bitácula
até as estrelas que fiam o infinito.
E há um povo grande de silêncios
e um povo irredento de sorrisos
e um mundo de mundos que abre braços,
braços leves de espera em tempos frios.

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