22 de maio de 2008

Zoologias

Seria doado ficar quando outros ficam,
morrer quando outros morrem,
prender-se à rocha viva
e dizer aqui estou eu, e tenho nome;
mas o vento não fica,
e a maré se retorce
entre fibras de lua
com correntes do norte.

Seria doado levar livros do céu,
ser de um feliz rosáceo
no ocaso de uma casa a beira-mar
e tender as galas para a noite,
cada noite em leito certo,
o almoço ás duas, pela velha,
os panos brancos na gaveta
e um jardim de rosas doces
a recender a sal.

Seria doado...
repreender-se no avental,
nas contas saneadas,
a mãe na cozinha,
o pai na sala a ler jornal.
Ficaria bonito para a foto
ser lapa na rocha,
rocha e lapa, com futuro
preciso de vaga no areal.

Mas a escama do peixe,
a cauda das sereias,
a dança dos golfinhos,
o erotismo doce do polvo a navegar,
e tu e eu, palavra sem margem,
brilho de galaxia namorada,
na cama das ondas,
no sofá das algas...
onde mais?
Nem sonhar tem cancelas,
nem tem portas o mar.

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