
As noites que passavas a aguardar,
avó de mundo nos olhares,
não semearam mais quartos de sonhar
para o copo de água iniciático
da filha de sapateiro
que assobiava aos pássaros
muinheiras de rouxinol.
Além tempo, o mar te reclamara
e tu eras menina com espírito de aventura,
mas ficas-te a parir filhas e varões
com aquele bem da chuva
que em ti semeou o velho milho
do labrego que não sabia bailar.
Havia uma tépida linha de luz no horizonte,
mas já era o dia de não ser,
de ir lavar ao rio e levar paradoxos
na caldeira da água para todos beber
e ficar de lua alheia
na casa do pátio longo
com gatos à espera do leite e a sardinha de Janeiro.
Mas aquele labrego
esculpia em ti ternuras que sabiam a mel,
doces razões peganhentas
que criaram desde o buxo a nossa estirpe,
com bigorna e pandeireta no cantar.
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