4 de janeiro de 2009

Memórias futuras

Como a terra se abre e te lembra.
Voltas nuvem e paisagem,
borboleta,
caminho sempre sem caminho,
achegas em mim um horizonte,
salvas o plano dos desejos,
e a saudade lateja,
e o mundo emerge
no ponto exacto do meu valor
único em ti e rejeitado,
do teu mesmo valor desesperado,
e a clarividência alonga asas ao jardim
no que desces, sem amor e de voz rota,
a lembrar as mais místicas paisagens
e tentar as infidelidades mágicas,
revoltas de sombra,
beijos frios,
a oferecer a espada, a dor, o filho,
os múltiplos rostos do infinito.
E sei que sou e serei forte,
manterei no seu leito cada rio,
mas buscarei o olhar dos olhos vivos
e o teu daimon de luz,
meu velho rei dos apátridas e as noites,
sacerdote iniciático dos ritos,
e amarei por sempre o que em ti ache,
e beberei por sempre nos teu sonhos
dos cons atlânticos a velha arte da magia
e no verso lume, ar, órfico alento,
na táboa que foi quase um silêncio,
teu lar perdido na ilha antiga,
carícia em oráculo,
corpo impuro de pureza exacta
a manar espíritos.

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