7 de janeiro de 2009

Beira-vida

Além do nascer e do morrer o viver vai
a fazer beiras e ser beira do sentir,
a caminhar com tempo extenso,
a exprimir brindes pelo simples
e partilhar existências
com a ciência e a mística presença
dos anjos na palavra,
e a saudade no espírito a tecer.
E falta Ulisses,
e aceitei um pretendente,
guardei prendas,
deixei o corpo a ser
enquanto a alma ficou a aguardar
e olho o mar.
O Outono é longo tempo
e o verso guia o dia a procurar.
Um outro ano hoje lembro que nasci
e tenho mais uma hora para amar,
há notícias que nem deixam sorrir
e abraços de esperança a medrar.

4 comentários:

Corpos que Sonham disse...

Unha das cousas que sempre me preguntei é qué pasaría se Penélope cedía a un pretendente. A resposta máis imediata (e insatisfatoria) que se me ocurría era que a viaxe remataría. Mas no teu poema, non se sabe cómo parece que continúa, e intuitivamente eu tamén acredito nesa perspectiva.

En todo caso, e tamén sen reflexionar muito, así intuitivamente, se me ocorre que para que a viaxe continue a súa realidade no soño, é preciso que recíprocamente a realidade do pretendente se convirta tamén en soño.

¿Será?

Iolanda Aldrei disse...

Os pretendentes sao corpo, nem sonho, nem alma.Embora tenham alma o que deles há é a presença física, material, tangível, isso os situa num tempo de realidade, diferente, nem melhor nem peor, apenas complementário, mas nao sao Ulisses, de outro jeito a viagem remataria, sao aceites nao como Ulisses, mas como pretetendentes, nao sao o drutz. Do mesmo jeito, Circe nao é Penélope, por isso também a viagem e a esperança continuam e a saudade é nossa ainda. Foi o meu aniversário este sete de Janeiro e o caminho assim está, Ulisses longe, abraços, sabes, nao faltam e isso é uma ilha, uma boa Ítaca. Obrigada por ser uma parte da Ítaca sonhada e por sonhar ainda e sempre.
Um beijo

Corpos que Sonham disse...

Eu sei que os pretendentes son corpo. Mas o problema que eu percebía é se a viveza da imaxe do soño Ulises non se esvaece cando se cedeu ao pretendente. E a solución (pouco meditada) que se me ocurriu para facer posible que a presencia tan avasalladora da solidez dun corpo non desdebuxe ao Ulises de materia sutil, é facer que o pretendente, o corpo, sexa vivenciado como emerxencia simbólica. Algo así como acontece no tantra no que os parceiros non son eles mas emerxencias do casal divino ou no teatro grego, onde a máscara trasforma un humano (corpo)en heroe ou deus dun acontecer soñado.

Parabéns polo aniversario.
Beixo

Iolanda Aldrei disse...

Às vezes Penélope desejaria mesmo que os pretendentes matassem essa saudade e Ulisses deixasse de ser sonho vivo, mas nao é. Penélope sabe que nessa comodidade mundana Ulisses e o cravo de Rosalia, deixariam de existir, mas a mesma Penélope perderia também o seu sentido e o cravo teria um oco. A saudade é uma dor que acompanha, mas também eleva ao mundo do casal divino e nao permite esquecer. O parceiro pretendente é essa emergência para Penélope, máscara mesmo, mas é pessoa, por tanto no tempo e no espaço que ocupa, no aqui e agora transforma a relaçao com Penélope num total completo, no ovo cósmico que permite qualquer casal, e o amor tem outros significados válidos, embora nao trascendentes. É refúgio no caminho, mas também companheiro de jornada. Por outra parte o pretendente pode sentir-se Ulisses pleno e achar em Penélope a sua Penélope, enquanto outra Circe nasce e o ama. Mesmo assim vai-se desenhando o mundo, assim se torna corpo e as almas ficam sem o seu casal; a soror mística aguarda, porém,se deixasse de faze-lo a sua própria alma se perderia.
Obrigada pelos parabéns e muitos para ti. Beijos.