17 de maio de 2008

A Terra de Tir nan Og VI

Tanto silêncio, tantas despedidas...
Poderíamos pintar um mapa novo
de lágrimas e bênções,
um mapa de aeroportos íntimos
invadidos por rosas e esperanças...
Aquele primeiro abraço!
Os peixinhos de prata do velho coronel
Aureliano Buendía
sorviam assombrados,
desde a portada do livro,
ternura entrelaçando-se,
a ânsia de amar encarnada
em paixão interminável.
Depois tu cantavas,
quiçá eu sorria de alegria esquecida
e assim nasceu o mundo
numa manhã crescida
com um homem e uma mulher a eternizar-se.
Uniam-se os passos e as mãos
despejando toda uma floresta de urbana solidão
para criar um lar errante antes de que anoitecesse.
A terra anfíbia dos sem-terra
acariciando-se na tarde,
beijando-se nas palavras,
destinando-se em caminhos de mundo
ao reencontro.
Assim foi o primeiro amor,
apaixonado e iniciático,
adolescente e tímido,
formoso como cada um dos futuros amores,
que agora são passado,
que sempre são presente
quotidiano,
em cada amanhecer,
até prender-se
no coração de cada dia
um universo de aves brancas,
um sonho de asas a latejar pele e ventos,
para além dos círculos planetários,
onde cada estrela é um ponto de esperança cósmica,
onde está a nossa casa sem fronteiras
à que sempre regressamos para colectar o amor
e semeá-lo
e alimentar-nos das suas folhas cada noite,
vendo-nos os olhos tão de perto
que o verde e o castanho se confundem,
como acontece na copa destas árvores.

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